ANÁLISE DA DOBRAGEM - Dragon Ball Super: Super-Herói

No dia 18 de agosto de 2022 estreou o filme “Dragon Ball Super: Super Herói”, na sua versão dobrada a cargo dos estúdios Audio-In. A versão dobrada, tal como já se sabia, não conta com as vozes portuguesas clássicas de “Dragon Ball”, podendo haver dúvidas antes de ver este filme sobre se os novos atores conseguem fazer jus aos seus papéis.

Antes de começar, esta não é uma análise sobre o filme em si, existem inúmeras análises desse tipo pela internet fora, mas se querem um resumo rápido da minha opinião então aqui vai. Este é um filme leve e divertido que relembra muito mais ”Dragon Ball” clássico no seu tom que o Z, tem um bait óbvio para a nostalgia mas nada que não seja diferente do seu predecessor “Dragon Ball Super: Broly”, que como filme e história de DB é, a meu ver, inferior ao mais recente lançamento desta saga.

ANÁLISE DA DOBRAGEM -  Dragon Ball Super: Super-Herói

Tratando da dobragem, é muito mais fácil encontrar o que elogiar do que criticar, especialmente em relação aos fantásticos dobradores, contudo o que existe para criticar são pontos fulcrais que demonstram falta de atenção e descuido por parte do estúdio responsável. O ponto mais forte aqui é sem dúvida o elenco que domina os papéis que lhes são dados, com as suas pontuais exceções. Os dois atores principais, Luís Lobão (Gohan) e Simon Frankel (Satã), trazem um poder para estas personagens que nenhuma voz antes em Portugal tinha trazido. Simon Frankel traz o lado sábio mas também brincalhão de Satã de uma forma natural com um tom de voz que não soa forçado, e não desaponta nas maravilhosas cenas de ação, mas quem eleva verdadeiramente as cenas de ação é Luís Lobão, com um poder na sua voz que rivaliza com a seiyuu original, a lendária Masako Nozawa, mantendo nas cenas calmas o registo de voz já apresentado por Henrique Feist mas levando-o a novos níveis de naturalidade. Outros destaques no elenco são Peter Michael (Magenta) que acerta perfeitamente no tom malvado da personagem, Guilherme Barroso (Gamma 1 e 2) diferenciando tanto a voz que nem é possível perceber que ambos partilham o mesmo ator, Luís Barros (SPOILER) cuja força de gritos além de surpreendente por vezes é tão parecido com a voz japonesa que chega a ser quase impossível distingui-los e Teresa Macedo (Pan), que traz à Pan toda a fofura na voz que ela merece. O devido destaque também deve ser dado para Miguel Raposo (Goku), que conquistou perfeitamente este papel continuando a deixar-me convencido que nasceu para ser a voz portuguesa de Son Goku. Podem ver o resto do elenco na página da WikiDobragens.

ANÁLISE DA DOBRAGEM -  Dragon Ball Super: Super-Herói

Contudo, nem tudo no elenco é perfeito. Simon Frankel, apesar do seu papel como Satã, fraqueja como Vegeta, dando-lhe um registo de voz bizarro que apesar de acertar mais com o avançar do filme só consegue alcançar o medíocre quando trabalhos anteriores do dobrador provam ser  capaz de muito melhor e de registos que encaixam muito mais na personagem. Infelizmente, também me vejo obrigado a criticar a fantástica Cristina Cavalinhos que além dos papéis de Bulma e #18 também dá voz à Videl, uma escolha sem qualquer sentido forçando uma fantástica atriz a fazer um papel em que não encaixa. Esta escolha obviamente não é culpa da dobradora, mas sim da direção da dobragem que como veremos mais à frente fez diversas escolhas bizarras.

ANÁLISE DA DOBRAGEM -  Dragon Ball Super: Super-Herói

A tradução esteve a cargo de Beatriz Almeida e Betty Riley, tendo pela primeira vez a coragem de aproximar a tradução portuguesa da versão original, utilizando termos como “Ki”, “Kami”, “Saiyan”, “Bolas Sagradas”, “Kakarot” etc., todavia a tradução é inconsistente usando também “Super Guerreiro”, “Coraçãozinho de Satã” e até mesmo “Bolas de Cristal”, contrariando termos usados anteriormente no filme. É possível que tenha sido distração das tradutoras devido ao hábito destes termos serem utilizados em Portugal há décadas, todavia estas inconsistências deveriam ter sido corrigidas pelo diretor da dobragem, Ivan Capela, que além de não corrigir estes erros permitiu que outros acontecessem.

Como foi dito no início esta dobragem não é perfeita, já foram mencionadas a direção em relação ao Vegeta e as contradições na tradução, mas existem outros erros que por muito que sejam raros e dispersos são inaceitáveis. A primeira coisa que se ouve no filme é um grito do Goku em criança, visto que esta é uma versão dobrada esperava-se que esse grito fosse feito por uma atriz ou ator português, mas não, inexplicavelmente é deixado o grito japonês e não é a única vez que isso acontece no filme. Na luta final é possível ouvir reações originais do Krillin, em vez da voz de Romeu Vala, e até gritos originais do Satã, entre outros, para um ouvido mal-habituado isto até pode passar despercebido, mas isso não é desculpa para desleixo. A distribuição de algumas personagens só pode ser descrita como bizarra. A já mencionada Videl, representada no filme pela Cristina Cavalinhos, cuja escolha em si faz pouco sentido, passa a ser absurda quando a Joana Castro que deu voz à Videl no anime faz parte do elenco. O mesmo acontece com o Karin, quem lhe dá voz no filme é o Peter Michael quando anteriormente era o Rui de Sá que inclusive está no elenco dando voz somente a um figurante, parecendo ser renegado para um simples cameo. São escolhas bizarras que demonstram não só falta de atenção, mas também falta de interesse no material que está a ser dirigido pelo estúdio.

ANÁLISE DA DOBRAGEM -  Dragon Ball Super: Super-Herói

Em termos mais técnicos a mistura do áudio esteve a cargo da LisbonFilmWorks, parecendo-me que em certos momentos as falas e gritos estavam um pouco abafadas mas não tendo ouvido essa crítica de mais ninguém é possível que sejam problemas relacionados com a sala de cinema e não com o trabalho de mistura.

Em suma, esta é uma dobragem que não fica atrás do que ficámos habituados com o último filme, tendo o elenco de excelência, contudo erros fulcrais e decisões bizarras por parte do estúdio de dobragem ferem esta dobragem em pontos impossíveis de ignorar.

Avaliação final: 7.5/10

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